Projeto: Vida Boa na Lagoa

O projeto Vida Boa na Lagoa contribui para a promoção de saúde e prevenção de doenças à medida que conscientizará os frequentadores do Parque Portugal sobre a importância da prática correta de atividades físicas para uma melhor qualidade de vida. Sabe-se que a atividade física gera enormes benefícios para a saúde, contribuindo para um melhor prognóstico de doenças crônicas como hipertensão arterial, diabetes mellitus, dislipidemias, doenças cardiovasculares, obesidade, etc. Sabe-se, ainda, que a prática regular de exercícios físicos diminui as chances do desenvolvimento dessas mesmas doenças em pessoas saudáveis.  Não obstante, deve-se salientar a importância das atividades físicas para a saúde mental tanto na questão de prevenção como de tratamento. Dessa forma, serão expostas, de forma sucinta, algumas das contribuições da atividade física para a saúde da população.

Uma das doenças crônicas mais relacionadas com a falta de prática de atividades físicas é a obesidade, que está adquirindo características epidêmicas no Brasil. Se o ritmo atual de crescimento do número de pessoas que se encontram acima do peso se mantiver, em 10 anos, 30 % da população se encontrará nesse quadro, padrão idêntico ao dos EUA, onde a obesidade é um problema de saúde pública.

A Pesquisa de Orçamento Familiar (POF), divulgada em 2010 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostra que em todas as regiões do país, em todas as faixas etárias e em todas as faixas de renda aumentou contínua e substancialmente o percentual de pessoas com excesso de peso e obesas. O sobrepeso atinge mais de 30% das crianças entre 5 e 9 anos de idade e cerca de 20% da população entre 10 e 19 anos. Além disso, em torno de 48% das mulheres e  de 50,1% dos homens acima de 20 anos também estão no quadro de sobrepeso. Entre os 20% mais ricos, o excesso de peso chega a 61,8% na população de mais de 20 anos. Também nesse grupo concentra-se o maior percentual de obesos: 16,9%. Deve-se ressaltar que o IBGE segue os parâmetros da Organização Mundial da Saúde (OMS) na conceituação de sobrepeso (Índice de Massa Corporal superior a 25%) e obesidade (IMC superior a 30%).

Percebe-se que a obesidade vem acompanhada com o estilo de vida ocidental contemporâneo, caracterizado pelo balanço energético positivo, já que os hábitos alimentares sofreram mudanças que se resumem à maior ingestão calórica diária e à  redução drástica das atividades físicas(1). Dessa forma a questão sociocultural também deve ser analisada para que haja resultado na tentativa de conscientização da população. A redução do nível de atividade física e sua relação com a ascensão na prevalência da obesidade refletem as mudanças na distribuição das ocupações por setores (exemplo: da agricultura para a indústria) e nos processos de trabalho com redução do esforço físico ocupacional; as alterações nas atividades de lazer, que se resumem muitas vezes a longas horas diante da televisão ou do computador, dentre outros fatores da sociedade contemporânea (2).

Essa tendência é global, por isso, em 2004, a Assembleia Mundial da Saúde, a máxima instância deliberadora da Organização Mundial da Saúde, chamou a atenção para o risco de epidemia da obesidade e editou o documento chamado Estratégia Global em Alimentação, Atividade Física e Saúde. Nele, os governos de todos os países se comprometem a implementar políticas que estimulem padrões saudáveis de alimentação e de atividade física.

Além da obesidade, a hipertensão arterial (HA) também é uma patologia crônica que pode ser amenizada ou até mesmo prevenida pela prática regular de exercícios físicos. Pesquisas mostraram que a prática regular de atividades físicas de lazer, principalmente vigorosas, reduz aproximadamente 30% o risco de desenvolvimento da HA.  O treinamento aeróbico reduz a pressão arterial (PA) clínica sistólica/diastólica de hipertensos em cerca de 7/5 mmHg, além de diminuir a PA de vigília e em situações de estresse físico e mental.  Dessa forma, para a prevenção da HA, recomenda-se que todo indivíduo adulto pratique pelo menos 30 minutos de atividade física moderada em pelo menos 5 dias da semana. Para um benefício mais específico nos hipertensos, recomenda-se a execução do treinamento aeróbico, que pode ser conduzido com diferentes modalidades, pelo menos três vezes por semana, por pelo menos 30 minutos e em intensidade leve a moderada (40% a 60% da frequência cardíaca)(3).

Estudos epidemiológicos têm demonstrado relação inversa entre prática ou aptidão física e os níveis de PA. Nesse sentido, já na década de 1980, o acompanhamento, por 6 a 10 anos, da incidência de HA em alunos de Harvard, relatou que indivíduos não engajados em atividades esportivas vigorosas tinham um risco 35% maior de desenvolver HA que aqueles os praticantes desse tipo de atividade (4). Na mesma época, também observou-se que sujeitos com menor aptidão física tinham risco relativo de 1,5 para a incidência de HA em relação aos sujeitos com maior aptidão (5).

A partir desses estudos, várias pesquisas foram conduzidas, concluiu-se que níveis elevados de atividade física de lazer reduzem em aproximadamente 30% a incidência de HÁ (6). Outras pesquisas concluíram que maiores reduções da PA são conseguidas com: a) modalidades que envolvam maiores grupos musculares, como caminhada/corrida ou ciclismo; b) intensidades mais baixas (40% a 60% do VO2 pico) e c) volumes de treinamento maiores, com maior frequência semanal e/ou com maior duração das sessões (7).

Além de ser benéfica para as doenças citadas anteriormente, a atividade física contribui para a manutenção da saúde mental, que também depende da prática regular de exercícios físicos. Estudos apontam que a vida sedentária contribui para o desenvolvimento de transtornos mentais como a depressão, a ansiedade e o estresse.

Pesquisadores enfatizaram as melhoras rápidas provocadas pelo exercício em pacientes com distúrbios depressivos sérios. Segundo eles, tais benefícios não seriam obtidos com tratamentos farmacológicos, que levariam no mínimo quatro semanas para fazerem efeito. Estudo realizado na Universidade da Califórnia, que acompanhou 900 idosos por mais de 11 anos, mostrou que a prática de atividades físicas promoveu benefícios psicológicos a homens e mulheres sedentários que eram mais susceptíveis à depressão. Além disso, as pessoas que interromperam os programas de exercícios ficavam mais propensas a desenvolver a doença.

Embora comum em todas as etapas da vida, a depressão está mais presente em idosos. A associação entre níveis de atividade física e depressão sugere que os idosos não sedentários apresentaram menor frequência de depressão. Esse resultado vai ao encontro da literatura que verificou associação entre humor depressivo e estilo de vida não-saudável em idosos holandeses com e sem doenças crônicas. Constatou-se que o aparecimento da depressão está associado com aumentos do consumo de cigarro e do sedentarismo e com a diminuição nos minutos da atividade física, evidenciando mais uma vez a importância de tal prática. Em estudo canadense de saúde e envelhecimento, a prevalência de depressão grave foi de 2,6% e depressão leve 4%, sendo mais elevados para as mulheres que relataram limitação das atividades por problemas crônicos de saúde (8). Em pesquisa epidemiológica com idosos (9), aqueles que tinham reduzido a intensidade do exercício físico durante oito anos relataram mais sintomas depressivos em comparação àqueles que tinham continuado ativos ou àqueles que tinham aumentado seus níveis de atividade física. Assim, considerando esse contexto, é imprescindível estabelecer ações norteadoras das políticas públicas de saúde para promover e manter o envelhecimento ativo, saudável e com mais qualidade de vida.

A partir do exposto anteriormente, conclui-se que o incentivo à prática de exercícios físicos é uma questão de prevenção e promoção de saúde, envolvendo, claro, aspectos da saúde pública. Dessa forma, o projeto Vida Boa na Lagoa visa contribuir para esse incentivo e para uma ação de melhoria da saúde da população que frequenta o Parque Portugal.

 

Foto do projeto:

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

Referências Bibliográficas

  1. Aspectos das práticas alimentares e da atividade física como determinantes do crescimento  do sobrepeso/obesidade no Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 20(3):698-709, mai-jun, 2004
  2. Anjos LA. Obesidade nas sociedades contemporâneas: o papel da dieta e da inatividade física. In: Anais do 3º Congresso Brasileiro de Atividade Física e Saúde. Florianópolis: Universidade Federal de Santa Catarina; 2001. p. 33-4
  3. Fabi LM, et al.  Atividade física: impacto sobre a pressão arterial. Rev Bras Hipertens vol.17(2):103-106, 2010. Artigo de revisão
  4. Paffenbarger Jr RS. Contributions of epidemiology to exercise science and cardiovascular health. Med Sci Sports Exerc. 1988;20:426-38
  5. Blair SN, Kohl HW, Barlow CE, Gibbons LW. Physical fitness and all-cause mortality in hypertensive men. Ann Med. 1991;23:307-12.
  6. Fagard RH. Physical activity, physical fitness and the incidence of hypertension. J Hypertens. 2005;23:265-7
  7. Rogers MW, Probst MM, Gruber JJ, Berger R, Boone Jr JB. Differential effects  of exercise training intensity on blood pressure and cardiovascular responses  to stress in borderline hypertensive humans. J Hypertens. 1996;14:1369-75
  8. Ostbye T, Kristjansson B, Hill G, Newman SC, Brouwer RN, McDowell I. Prevalence and predictors of depression in elderly Canadians: the Canadian study of health and aging. Chronic Dis Can. 2005;26(4):93-9.
  9. Lampinen P, Heikkinen RL, Ruoppila I. Changes in intensity of physical exercise as predictors of depressive symptoms among older adults: an eightyear follow-up. Prev Med. 2000;30(5):371-80.